




200 anos de Flaubert: o filho mais rebelde da burguesia
“O primeiro romancista moderno”, “pai do realismo”, “açougueiro do romantismo” e “burguesófobo burguês”. Esses são apenas alguns títulos que costumam ser aplicados à figura do francês Gustav Flaubert, que nasceu há 200 anos, em 1821 — mesmo ano de nascimento de Charles Baudelaire, outro imortal da literatura francesa.
Os rótulos se devem à sua obra, claro, uma das mais importantes dos século 19, mas também à figura controversa do autor. Ele foi um contestador da burguesia de sua época, mas também um de seus filhos mais exemplares.
- Flaubert nasceu há 200 anos, em 12 de dezembro de 1821
- Era filho de um médico rico
- Odiava desde cedo a burguesia
- Mas nunca trabalhou, vivendo com a mãe até os 50 anos
- Abandonou a faculdade de Direito
O pai de Flaubert era um médico rico chamado Achille Cléophas Flaubert. Ainda menino, o escritor já deixava claro seu desprezo pelo mundo burguês, dizendo-se “enojado da vida”. Depois da morte do pai e da irmã, e de sofrer um ataque epilético que o fez abandonar a faculdade de Direito, ele se mudou para Croisset, na Normandia, onde morou com a mãe até completar 50 anos. Viajou e escreveu, mas fora isso nunca trabalhou, vivendo de rendas.
Como o escritor explicava essa contradição? De forma genial, como sua obra: “Seja metódico e organizado na vida como um burguês, para poder ser violento e original em sua obra”. Foi o que ele fez.
Madame Bovary
Flaubert realmente nunca esteve para brincadeira. Seu primeiro livro já o fez parar literalmente na boca do povo, tornando-o famoso. Isso porque Madame Bovary, publicado em 1857 (de novo, mesmo ano em que saiu Flores do mal, de Baudelaire), quando o autor tinha apenas 36 anos, foi acusado de “ultrajar a moral e a religião”.
A história narra o adultério e suicídio de Emma Bovary, que se tornou uma das personagens mais conhecidas e emblemáticas de toda literatura mundial.
- Seu primeiro romance é Madame Bovary, publicado em 1857
- O livro descreve um adultério seguido de suicídio
- Emma é uma das personagens mais emblemáticas da literatura
- O autor foi processado por conta do romance
- O livro o deixou muito famoso
A história é um ataque violento à burguesia, desmoralizando-a com a descrição exuberante de sua banalidade. Em um tempo em que as mulheres eram submissas, Emma Bovary encontra nos tolos romances dos livros o antídoto para o tédio conjugal e inaugura uma galeria de famosas esposas adúlteras atormentadas na literatura.
Com a cabeça cheia de fantasias românticas e disposta a sair do campo, Emma se casa com Charles, um médico interiorano sem nenhuma ambição. Pouco tempo depois do casamento, ela se dá conta de que a vida de casada não era aquele sonho maravilhoso retratado nos livros que lia.
Nem mesmo o nascimento da filha consegue deixá-la menos entediada e frustrada com a vida que escolhera. Decepcionada com o marido e com os amantes, Emma dá fim à própria vida tomando arsênico.
- Flaubert era perfeccionista, por isso publicava a cada cinco ou seis anos
- “A palavra certa” era um de seus mantras
- Outra frase famosa sua foi “Madame Bovary sou eu”
- Influenciou diversos outros escritores, como o brasileiro Milton Hatoum
- Morreu arruinado financeiramente
Processo e outros livros de Flaubert
Madame Bovary foi publicado inicialmente em capítulos na Revue de Paris, editada por Maxime du Camp, amigo de Flaubert. Mesmo o editor tendo cortado as cenas mais “pesadas”, o romance foi atacado e o escritor, processado. É quando ele fala a frase que é tão conhecida quando o próprio romance: “Madame Bovary, c’est moi” (“Madame Bovary sou eu”).
O escritor teve um vida confortável para escrever sua obra. Mas não o fez com pressa, e explicou assim seu ritmo de trabalho: “A palavra certa”. Era conhecido pela dedicação ao texto e um certo perfeccionismo. Por isso, publicava a cada cinco ou seis anos, não antes disso.
Além de Madame Bovary, escreveu outros livros que são considerados clássicos, como Salambô (1862) e A educação sentimental (1869), uma história de amor, riqueza e glória cujo pano de fundo é a Revolução de 1848. Para vários críticos, esse é o melhor trabalho de Flaubert, juntamente com a obra-prima cômica inacabada Bouvard e Pécuchet (1881).
Flaubert morreu com a saúde e as finanças em frangalhos. Mas após sua morte, em 1880, sua fama e a reputação só cresceram. Influenciou grandes autores, como o inglês Julian Barnes e o brasileiro Milton Hatoum.
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Madame Bovary
Gustav Flaubert
Trad.: Mário Laranjeira
Penguin-Companhia
496 págs.